terça-feira, 8 de abril de 2014

12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave)

Direção: Steve McQueen
País: EUA, Reino Unido
Ano: 2014




Em 2008, quando o diretor Steve McQueen estreou na direção de longas metragens com o filme Hunger, ficou claro que ali estava por vir um grande mestre na arte de dirigir. Hunger foi visceral, intenso e sem sensacionalismo. Um filme com uma crítica social atual sobre os valores morais que a Irlanda vivia na época. Em 2011, McQueen lança Shame, que assim como Hunger teve as mesmas características de assinatura do diretor; intensidade, arte pela arte, brilho e uma temática polêmica, que no caso foi compulsão sexual. Porém até o momento não se ouvia grandes elogios ao diretor. Foi quando ele começou a dirigir um longa em terras hollywoodianas, e mantendo uma temática forte: a escravidão nos EUA.

12 Anos de Escravidão conta a estória de um negro ex-escravo que vive de forma livre após conseguir sua carta de alforria. Não demora em que ele seja sequestrado e trabalhe de escravo ilegalmente pelos 12 anos do título. Baseado no livro autobiográfico de Solomon Northup, protagonizado por Chiwetel Ejiofor.

Confesso que quando soube que “12 Anos...” ganhou o Oscar de melhor filme este ano (2014), fiquei com um pé atrás. Pois os dois primeiros filmes de Steve McQueen, embora perfeitamente técnicos e sensíveis, não eram o tipo de filmes para Oscar, e sim, para festivais menos populares, embora até melhores; devido ao seu caráter não comercial. E fiquei curioso de saber como o diretor conseguiu driblar a “Academia” para chegar em tal podium.



O elenco, que conta com mestres da atuação na atualidade (M. Fassbender, Paul Dano, Benedict Cumberbatch), faz o seu papel de forma esplêndida, com exceção do ator principal, Chiwetel Ejiofor, que não muda sua expressão facial pelas 2 horas do filme. O visual do filme, os planos e todo o ambiente da região sul dos EUA é filmado de forma belíssima como que fosse uma forma de relaxar os olhos do espectador, que só vê desgraça na vida de Solomon. Porém a estória de Solomon é monótona e repetitiva para uma adaptação (quase) fiel ao cinema. Solomon é sequestrado e escravizado e, claro, só isso já bastaria de sofrimento, pois como disse meu colega crítico de cinema Rodrigo Ramos em relação à escravidão: “Nada, nenhuma palavra, nenhuma ação, nenhuma bolsa família ou cota de faculdade será capaz de reparar os erros grotescos do passado.” Porém nos dias atuais, poucas coisas nos chocam como antigamente; o próprio Mel Gibson ao justificar a violência exacerbada de seu filme A Paixão de Cristo (2004), cita, que cada vez mais temos que exagerar na violência em um longa metragem para que consigamos passar a sensação vivida na cena. E, é exatamente isso que falta em “12 Anos...”. O espectador fica esperando as coisas se desenrolarem no filme, porém pouco acontece. Até mesmo o próprio plano sequência de uma cena de tortura em uma escrava, chega a ser mediano. E o final do filme possui um desfecho sem graça e com atuações medíocres, o que tornou tudo muito vago no longa de Steve McQueen.

No ano anterior, outro longa com a mesma temática foi lançado, Django Livre, que apesar de possuir uma outra forma de linguagem, exibindo violência gratuita, ele consegue ambientar e trazer a nossa realidade o sofrimento que os negros passaram no passado, além de toda a questão de vingança que o público que ver na tela.

Outros filmes muito melhores mereciam o Oscar esse ano e, os próprios longas anteriores de McQueen, também mereciam. Assim como o Oscar, Steve McQueen já foi melhor.

Gustavo Halfen