Direção:
Thomas Vinterberg
País:
Dinamarca
Ano:
2012
Além
da iluminação característica, o cinema nórdico frequentemente utiliza-se de
temas sobre a natureza humana. Thomas Vinterberg é um dos representantes do
norte europeu; com conflitos humanos e personagens íntegros, Vinteberg tece sua
carreira de grandes filmes como Festa de Família (Festen, 1998), Querida Wendy (Dear
Wendy, 2004) e agora A Caça (Jagten).
Na
trama, Lucas (Mads Mikkelsen) é um professor de uma escola infantil de uma pequena
cidade da Dinamarca onde tem uma relação muito próxima com seus alunos. Certo dia a aluna Klara — e também filha do seu melhor amigo — apaixonada por Lucas, fica chateada pela censura do professor ao dar-lhe um beijo na boca e, influenciada pelos adultos ela insinua para uma professora que Lucas mostrou o
pênis a ela. A partir disso, Lucas é acusado de abuso sexual de menores,
é agredido e humilhado na rua e os próprios alunos passam a temê-lo. Vemos
Klara sendo obrigada a dizer que foi abusada: “Diga o que aconteceu, depois a
deixo ir brincar.”, diz o conselheiro dos professores ao entrevistá-la.
A Caça nos dá uma abordagem abrangente sobre temas
muito atuais na sociedade. O psicanalista Sándor Ferenczi diz: “a criança fala
a linguagem da ternura”; os adultos maliciosos e maléficos é que criam
situações de erotismo no universo infantil. Lucas passa por situações de
injustiça que deixam o espectador angustiado; o povo da pequena cidade acredita
cegamente e sem provas que o professor é pedófilo. “A verdade é a verdade do
rebanho.”, cita Nietzsche.
Vinterberg mostra um lado humano desprezível; os
resquícios de um povo cristão, que adora ver um homem pregado na cruz, é
demonstrado em sua obra de forma cruel, e o espectador se vê cúmplice do
injustiçado protagonista.
O longa do diretor dinamarquês foi lançado em 2012 e
rendeu o prêmio de melhor ator em Cannes a Mads Mikkelsen. Coincidentemente o
filme foi lançado no Brasil na mesma época dos atentados da Maratona de Boston
nos EUA, deste ano (2013), onde temos uma busca por vilões e culpados sem
provas concretas, para satisfazer o desejo de vingança da sociedade; curiosamente
o mesmo desejo daqueles que assombraram a vida de Lucas e o rebaixaram do
patamar de “homem predador” para “caça”.
Gustavo Halfen