Direção: François Ozon
País: França
Ano: 2012
François
Ozon sempre mistura gêneros em seus filmes; se em Ricky (2009) ele brinca com a
fantasia e o surrealismo para expor as teorias de Freud, em relação a super proteção
da mãe, em “Dentro da Casa”, coloca o espectador como personagem e criador da
estória, e personagens como espectadores, brincando com a psicanálise nas projeções criadas por um indivíduo que
se espelha e/ou rapassa a outro.
Na
trama, Germain (Fabrice Luchini), professor de redação de uma escola pública,
apoia o aluno Claude Garcia (Ernst Umhauer) a desenvolver sua escrita. Este por
sua vez manipula o professor escrevendo redações que contam seus dias vividos
na casa de um colega de aula. Claude mistura fantasia e realidade, confundindo
seu mentor, e detém um modo irônico de escrever, expondo seus desejos internos
e suas atrações sexuais, que vão acabar interferindo na vida pessoal de
Germain.
Suspense,
melodrama e sátira ao cotidiano da vida da classe média são as bases de
sustentação do longa e, nós, espectadores, vemos o roteiro sendo escrito e
construído com a interferência de ambos os personagens. Claude é observador e
percebe detalhes repugnantes da vida cotidiana, e junto a isso seus sentimentos
adolescentes vão se aflorando e a beleza das “donas de casa” da quais ele
frequenta, vão inebriando seu olhar atento, Kristin Scott Thomas e Emmanuelle
Seigner tornam-se sex symbols através
das lentes de Ozon. As frustrações do professor vem à tona, e ele projeta-se em
Claude, que sem pudores vai instigando e construindo sua estória, que por vezes
sofre interferências de todos os personagens.
Ozon
embaralha a percepção do espectador curioso, deixa-nos interessados pela vida
alheia, e desamparados com a nossa (ou a de Germain) que entra em colapso,
lembrando o clássico de Hitchcock, Janela Indiscreta. E por falar em clássico,
impossível não notar a referência da “Trilogia do Apartamento” de Polanski,
onde toda (ou quase toda) trama desenvolve-se “dentro da casa”.
Gustavo Halfen
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