Direção: Rob Epstein, Jeffrey Friedman
País: EUA
Ano: 2010
Allen Ginsberg, um dos grandes nomes da geração beat,
considerado uma das maiores celebridades do século XX, preso certa vez por
cúmplice de assassinato, outra por cúmplice de furto; expulso de Cuba e
Tchecoslováquia por pederastia e defender a legalização da maconha; ativista
político. Seu poema Uivo é tido como um dos mais belos do século passado,
juntamente com o livro “Uivo e Outros Poemas” tanto pela sua forma literária
como pela espontaneidade e ritmo jazzístico. Esse filme é sobre esse poema.
O longa não chega a ser uma biografia do escritor, é
mais uma homenagem e uma obra cinematográfica baseada no seu poema. Temos
quatro atos que se mesclam durante o roteiro: Ginsberg, interpretado
carismaticamente por James Franco, em seu apartamento, sob uma luz amarelo
esverdeada, rompendo a quarta parede e divagando sobre sua vida e obra em uma entrevista para um suposto jornalista; o tribunal onde sua obra
“Uivo e Outros Poemas” está sendo julgada por utilizar linguagem obscena; temos
em preto e branco o autor lendo sua poesia na Six Gallery em um evento criado
por ele mesmo chamado 6 Poets at 6 Gallery e intercalando com todos estes atos
temos uma animação com uma livre interpretação de Uivo sendo lido por J.
Franco, onde monstros chifrudos soltam fogo pelo nariz e Neil Cassady leva
lindas garotas para transar em seu automóvel, em meio a caveiras pegando fogo,
jovens transando nas estrelas e paus gozando fogos de artifício no céu.
Em sua casa Allen fala que as pessoas nunca se
chocariam com a expressão de um sentimento; se referindo a quando declarou a
seus amigos beats que era homossexual. Explica que o início de Uivo é sobre sua
paixão e idolatria pela pessoa e artista que Jack Kerouac representava a ele: “...tagarelando,
berrando, vomitando e sussurrando fatos
e lembranças e anedotas...” O poeta explica com sua voz rouca e boêmica que os
escritores tem idéias preconcebidas sobre o que é a literatura, e isso os impossibilita de
fazerem coisas mais interessantes; anos depois estas mesmas palavras continuam
valendo e saindo da boca do chileno artista multimídia Alejandro Jodorowsky,
conhecido pela ousadia, linguagem obscena e surrealismo em suas obras cinematográficas.
Ginsberg ainda conta sobre sua
obsessão sexual por Cassady, onde em Uivo ele cita: “...Neil Cassady herói
secreto deste poemas, garanhão e Adônis de Denver...”, fala sobre o espírito
robótico da população estadunidense no universo pós segunda guerra mundial,
além de Carl Solomon, amigo que conheceu no hospício (a quem dedica o poema), sua mãe que enlouqueceu e
seu demônio interior chamado Moloch.
Percebemos que o fim do inspirado
longa vai chegando quando o poeta beat declama sua obra na 6 Gallery em presença
de seus amigos e os cita: “...tudo é sagrado. Todo tempo é uma eternidade
(referência de Blake). Todo homem é um anjo....A máquina de escrever é
sagrada... O Poema é sagrado... Sagrado Peter, Sagrado Allen, Sagrado Solomon,
Sagrado Lucien, Sagrado Kerouac, Sagrado Burroughs... Sagrado Cassady...”.
Assim, ao final temos o
verdadeiro Allen Ginsberg cantando Father Death Blues, poema feito para a morte
de seu pai.
Um filme que é pura poesia! Para
àqueles que pouco conhecem a obra e a vida de Allen e a geração beat, eis uma
apetitosa oportunidade para tal. Para aqueles que já o conhecem, delírios
poéticos e jazz de uma geração desregrada nunca são de mais.
Gustavo Halfen