quarta-feira, 20 de março de 2013

Uivo (Howl)


Direção: Rob Epstein, Jeffrey Friedman
País: EUA
Ano: 2010




Allen Ginsberg, um dos grandes nomes da geração beat, considerado uma das maiores celebridades do século XX, preso certa vez por cúmplice de assassinato, outra por cúmplice de furto; expulso de Cuba e Tchecoslováquia por pederastia e defender a legalização da maconha; ativista político. Seu poema Uivo é tido como um dos mais belos do século passado, juntamente com o livro “Uivo e Outros Poemas” tanto pela sua forma literária como pela espontaneidade e ritmo jazzístico. Esse filme é sobre esse poema.

O longa não chega a ser uma biografia do escritor, é mais uma homenagem e uma obra cinematográfica baseada no seu poema. Temos quatro atos que se mesclam durante o roteiro: Ginsberg, interpretado carismaticamente por James Franco, em seu apartamento, sob uma luz amarelo esverdeada, rompendo a quarta parede e divagando sobre sua vida e obra em uma entrevista para um suposto jornalista; o tribunal onde sua obra “Uivo e Outros Poemas” está sendo julgada por utilizar linguagem obscena; temos em preto e branco o autor lendo sua poesia na Six Gallery em um evento criado por ele mesmo chamado 6 Poets at 6 Gallery e intercalando com todos estes atos temos uma animação com uma livre interpretação de Uivo sendo lido por J. Franco, onde monstros chifrudos soltam fogo pelo nariz e Neil Cassady leva lindas garotas para transar em seu automóvel, em meio a caveiras pegando fogo, jovens transando nas estrelas e paus gozando fogos de artifício no céu.


Em sua casa Allen fala que as pessoas nunca se chocariam com a expressão de um sentimento; se referindo a quando declarou a seus amigos beats que era homossexual. Explica que o início de Uivo é sobre sua paixão e idolatria pela pessoa e artista que Jack Kerouac representava a ele: “...tagarelando, berrando,  vomitando e sussurrando fatos e lembranças e anedotas...” O poeta explica com sua voz rouca e boêmica que os escritores tem idéias preconcebidas sobre o que  é a literatura, e isso os impossibilita de fazerem coisas mais interessantes; anos depois estas mesmas palavras continuam valendo e saindo da boca do chileno artista multimídia Alejandro Jodorowsky, conhecido pela ousadia, linguagem obscena e surrealismo em suas obras cinematográficas.


Ginsberg ainda conta sobre sua obsessão sexual por Cassady, onde em Uivo ele cita: “...Neil Cassady herói secreto deste poemas, garanhão e Adônis de Denver...”, fala sobre o espírito robótico da população estadunidense no universo pós segunda guerra mundial, além de Carl Solomon, amigo que conheceu no hospício (a quem dedica o poema), sua mãe que enlouqueceu e seu demônio interior chamado Moloch.

Percebemos que o fim do inspirado longa vai chegando quando o poeta beat declama sua obra na 6 Gallery em presença de seus amigos e os cita: “...tudo é sagrado. Todo tempo é uma eternidade (referência de Blake). Todo homem é um anjo....A máquina de escrever é sagrada... O Poema é sagrado... Sagrado Peter, Sagrado Allen, Sagrado Solomon, Sagrado Lucien, Sagrado Kerouac, Sagrado Burroughs... Sagrado Cassady...”.


Assim, ao final temos o verdadeiro Allen Ginsberg cantando Father Death Blues, poema feito para a morte de seu pai.

Um filme que é pura poesia! Para àqueles que pouco conhecem a obra e a vida de Allen e a geração beat, eis uma apetitosa oportunidade para tal. Para aqueles que já o conhecem, delírios poéticos e jazz de uma geração desregrada nunca são de mais.

Gustavo Halfen

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