Direção: Xavier Dolan
País: Canadá, França
Ano: 2012
Em seu terceiro filme, Xavier Dolan, de 23 anos, já
desponta sua carreira como diretor, em um filme que merece análise tanto pela
estética como pela estória.
Laurence (Melvil Poupaud) é um homem que está quase
chegando aos 40 anos de idade, vive um relacionamento intenso com sua namorada
Fred (Suzanne Clémment), neste momento determina que não existe mais
possibilidade de ele viver como homem. Assim Laurence decide vagarosamente
transformar-se em uma mulher, não por ser homossexual, mas sim por uma questão
de gosto, pois sua atração pelo sexo oposto não muda, mas isso causa um
tremendo impacto no seu relacionamento amoroso, familiar e profissional.
Ao início do longa, vemos cenas através dos olhos do
protagonista sendo observado de cima à baixo pelas pessoas na rua, nos dando
uma breve sensação da abordagem do filme de Xavier Dolan. A homossexualidade é
uma temática carimbada nos filmes do diretor, homossexual assumido, ele
trabalhou este tema em “Eu matei minha mãe” (J'ai tué ma mère, 2009), que trata de um adolescente
homossexual e sua conturbada relação com a mãe; e Amores Imaginários (Les
amours imaginaires, 2010), onde um casal de amigos se apaixona por um mesmo
garoto; e agora, em um roteiro desenvolvido pelo mesmo, ele entra em um campo
que está sendo inicialmente discutido na sociedade: a transexualidade, mudança
de sexo por efeito hormonal e cirúrgico; além do choque do individuo para com a
sociedade. É interessante observar a relação do casal, no filme, onde a questão
sexual é discutida, chegando à beira do colapso entre ambos, pois para Fred,
não é difícil aceitar os ideais de Laurence, mas sim o fato de viver e se
relacionar sexualmente com um trans, ou melhor, uma mulher.
Laurence
Anyways possui duas horas e quarenta minutos de duração, e embora soe
cansativo, nada ali desmerecia estar na tela, pois além da estrutura dramática
bem montada, a questão estética é extremamente importante no filme. O uso de
cores fortes e femininas fazem parte da temática, mas é impossível não notar os
takes do longa, e o uso abusivo de
figuração caricata e gótica, penteados coloridos, roupas douradas, perucas
extravagantes e homens que se parecem com mulheres e vice-versa, contrastando
com o visual nada exagerado do protagonista que no fim parece ser o mais normal
entre os personagens. Isso, sem contar da dramatização visual apoiada pela
trilha sonora ora clássica, ora pop, e o uso exagerado de câmera lenta.
Relevante observar também a transformação nos penteados da linda Suzanne Clémment
que com o passar da década (o filme inicia-se em 1989 até os anos 2000) seu
visual torna-se cada vez mais notável, mérito de Dolan, que além de assinar o
roteiro e direção, também faz o figurino.
Por fim, além de ser um filme como um tema social e um
tanto político, Laurence Anyways é importante pela sua estética surreal,
criando um universo à parte, e desconstruindo o visual oitentista e noventista
conhecido pelo publico pop. Observar a caracterização do cenário e do figurino
do filme, faz-se essencial e fetichioso, e um
aprendizado para àqueles que simpatizam com essa nova forma de interagir com o
mundo. Um mundo onde as transformações estéticas estão cada vez mais impactando
os mais conservadores, que já nem conseguem discernir gêneros.
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