Especial: Competição Internacional de longa metragem do
Festival Olhar de Cinema de Curitiba
Direção: Daniel Aragão
País: Brasil
Ano:2012
Não é coincidência que “Boa
sorte, meu amor” tenha passado em sua segunda sessão no Festival Internacional
de Curitiba; cidade fria e solitária, exatamente no dia 12 de junho, dia dos
namorados. Classificado pelo diretor como um “anti romance” autobiográfico,
“Boa sorte...” retrata um improvável romance buscado pelo protagonista Dirceu,
como desculpa para uma busca de autoconhecimento, revelando uma breve história
dos moradores de Recife e sua relação com o passado latifundiário no sertão
nordestino.
Dirceu, descendente de uma
família latifundiária do sertão, tem uma vida estável na capital pernambucana,
até conhecer Maria, uma artista questionadora de sua realidade atual. A
diferença entre os dois fará Dirceu perseguir novos horizontes em uma saga por
um sertão surreal e onírico, onde a realidade e a ficção se confundem.
Em seu primeiro longa metragem,
Daniel Aragão homenageia seu leque de referências, em um filme fetichioso,
dando ao espectador um deleite aos olhos apurados, e ao mesmo tempo instigando
os ouvidos em uma trilha sonora que caminha entre o blues e o clássico, com
sinfonias de metais com acordes dissonantes e duvidosos; além de possuir um som
diegético peculiar: as falas possuem um volume pouco intenso, se contrapondo
com a trilha, que é extremamente alta.
As referências de cinema e música
chegam a ser exageradas; temos a vida noturna dos anos 1960: seios expostos e lábios
carnudos em closes fetichistas, misturados
a chicotes e zooms rápidos lembrando clássicos de faroeste. Experimentamos a
sensação de um preto e branco bastante contrastante, como nos filmes de Fellini, a luz expressionista dá uma qualidade irracional e onírica; meninos mergulham em um
rio aparentemente sem sentido, o silêncio em algumas cenas parecem desconstruir
a narrativa, confundindo o espectador, lembrando até mesmo os filmes surrealistas
de Buñuel.
Gustavo Halfen
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