Especial: Competição Internacional de Curta metragem do
Festival Olhar de Cinema de Curitiba
Os curtas brasileiros estão em
destaque no Festival Internacional de Cinema de Curitiba. “Menino do Cinco” e “Filme Para Poeta Cego” criaram uma sensação de desconforto na última sessão
de curtas desta terça feira (11 de junho) do evento.
Menino do Cinco
Direção: Marcelo Matos de Oliveira, Wallace Nogueira
País: Brasil
Ano: 2012
“Menino do Cinco”, curta de
Marcelo Matos de Oliveira e Wallace Nogueira, inicia-se como uma jornada
infantil de um menino e seu animal de estimação. Mas logo percebemos uma
análise comparativa entre crianças de vivem nas ruas, acostumadas com a
interação das grandes metrópoles, e meninos que moram em seus apartamentos de
classe média alta, nas grandes cidades; mais precisamente, como um dos
diretores citou em entrevista: “meninos de rua e meninos sem rua”. A possessão
por objetos materiais e acondicionamento da solidão para aqueles que vivem
trancafiados, destaca-se no filme, que embora tenha cenas que seriam de apelo
àqueles que gostam de crianças e filhotes de cães, aqui, a possibilidade de surpreender-se
com um trágico acontecimento de um dos supostos vilões da jornada infantil, que
não cabe aqui, caro leitor, revelar seu desfecho final, traz uma reflexão do
comportamento das diferentes classes sociais neste Brasil continental.
Talvez o filme mais ousado do
festival, “Filme Para Poeta Cego”, causou constrangimento na sala de cinema do
Shopping Crystal em
Curitiba. Baseado na obra artística do poeta cego,
sadomasoquista e pedólatra Glauco Mattoso, o diretor Gustavo Vinagre cria uma
obra que, como seu sobrenome, pode soar azeda para a maioria das pessoas. Na
trama temos um falso documentário, onde Glauco contrata um ator para
satisfazer seus fetiches. Deglutir fezes, lamber solas de sapato e se queimar
com cera de vela quente, são alguns dos prazeres tortuosos os quais
nosso triste ator implora para acabar. Na sala de cinema escutava-se risadas
macabras e forçadas, além de gemidos e movimentos dos espectadores, que não
conseguiam encaixar uma posição confortável nas poltronas do cinema. Não que as
cadeiras do Cinema Itaú sejam desconfortáveis, nem que o curta metragem tenha
cenas explícitas; a sacada de Gustavo Vinagre foi apenas sugerir tais
acontecimentos na tela, deixando livre a interpretação do público que, sem
exceções, mostrou-se de mente suja e perversa, dando orgulho ao meu chará,
diretor de sobrenome de tempero forte. “Filme Para Poeta Cego” é atrevido e
audacioso, quebra paradigmas e conceitos sociais, sem julgar. Caminha na
contramão da maioria dos filmes do festival que, sem medo de ser vaiado, dá um
tapa na cara da sociedade. E, não poderia ser diferente, pois a poesia de
Mattoso cita: “Não creia em tudo aquilo que está lendo, Duvide até da própria
assinatura (...) Se ser um masoquista é que ele jura, No máximo masturba-se
escrevendo (...)”.
Gustavo Halfen
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