quinta-feira, 13 de junho de 2013

Menino do Cinco / Filme Para Poeta Cego

Especial: Competição Internacional de Curta metragem do
Festival Olhar de Cinema de Curitiba


Os curtas brasileiros estão em destaque no Festival Internacional de Cinema de Curitiba. “Menino do Cinco” e “Filme Para Poeta Cego” criaram uma sensação de desconforto na última sessão de curtas desta terça feira (11 de junho) do evento.


Menino do Cinco
Direção: Marcelo Matos de Oliveira, Wallace Nogueira
País: Brasil
Ano: 2012



“Menino do Cinco”, curta de Marcelo Matos de Oliveira e Wallace Nogueira, inicia-se como uma jornada infantil de um menino e seu animal de estimação. Mas logo percebemos uma análise comparativa entre crianças de vivem nas ruas, acostumadas com a interação das grandes metrópoles, e meninos que moram em seus apartamentos de classe média alta, nas grandes cidades; mais precisamente, como um dos diretores citou em entrevista: “meninos de rua e meninos sem rua”. A possessão por objetos materiais e acondicionamento da solidão para aqueles que vivem trancafiados, destaca-se no filme, que embora tenha cenas que seriam de apelo àqueles que gostam de crianças e filhotes de cães, aqui, a possibilidade de surpreender-se com um trágico acontecimento de um dos supostos vilões da jornada infantil, que não cabe aqui, caro leitor, revelar seu desfecho final, traz uma reflexão do comportamento das diferentes classes sociais neste Brasil continental.


Filme Para Poeta Cego
Direção: Gustavo Vinagre
País: Brasil
Ano: 2012




Talvez o filme mais ousado do festival, “Filme Para Poeta Cego”, causou constrangimento na sala de cinema do Shopping Crystal em Curitiba. Baseado na obra artística do poeta cego, sadomasoquista e pedólatra Glauco Mattoso, o diretor Gustavo Vinagre cria uma obra que, como seu sobrenome, pode soar azeda para a maioria das pessoas. Na trama temos um falso documentário, onde Glauco contrata um ator para satisfazer seus fetiches. Deglutir fezes, lamber solas de sapato e se queimar com cera de vela quente, são alguns dos prazeres tortuosos os quais nosso triste ator implora para acabar. Na sala de cinema escutava-se risadas macabras e forçadas, além de gemidos e movimentos dos espectadores, que não conseguiam encaixar uma posição confortável nas poltronas do cinema. Não que as cadeiras do Cinema Itaú sejam desconfortáveis, nem que o curta metragem tenha cenas explícitas; a sacada de Gustavo Vinagre foi apenas sugerir tais acontecimentos na tela, deixando livre a interpretação do público que, sem exceções, mostrou-se de mente suja e perversa, dando orgulho ao meu chará, diretor de sobrenome de tempero forte. “Filme Para Poeta Cego” é atrevido e audacioso, quebra paradigmas e conceitos sociais, sem julgar. Caminha na contramão da maioria dos filmes do festival que, sem medo de ser vaiado, dá um tapa na cara da sociedade. E, não poderia ser diferente, pois a poesia de Mattoso cita: “Não creia em tudo aquilo que está lendo, Duvide até da própria assinatura (...) Se ser um masoquista é que ele jura, No máximo masturba-se escrevendo (...)”. 

Gustavo Halfen

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