quarta-feira, 22 de maio de 2013

Filhos da Esperança (Children of Men)


Direção: Afonso Cuarón
País: EUA, Reino Unido
Ano: 2006




Afonso Cuarón homenageia seus ídolos da cultura pop em um filme crítico e apocalíptico.


2027, a população humana está tomada por uma desesperança em sua existência. As mulheres não engravidam há mais de 18 anos, e a cada dia a humanidade caminha para sua extinção predestinada. Todo o globo está em guerra, na Inglaterra a xenofobia é cada vez mais agravante, tornando a polícia mais violenta e os ataques terroristas de ativistas mais extremos. Em meio a esta situação está Théo (Clive Owen), um ex-ativista político afastado há 20 anos; ele vive uma vida desacreditada nesse caos, até conhecer Kee (Clare-Hope Ashitey), uma imigrante que está milagrosamente grávida, e precisa fugir da polícia de migração e dos ativistas que querem usar sua criança como uma ferramenta de propaganda.

“Filhos da Esperança” chama atenção pela técnica, referências e pela crítica social, do que pela estória em si. O diretor mexicano já nos presenteia com um breve plano sequência na primeira cena do filme, que acaba se apagando um pouco devido a dois principais planos que vêm posteriormente: dentro de um carro, cinco personagens interagem entre si, filmados por uma câmera que se movimenta facilmente como uma mosca pelo espaço interno do automóvel, ali temos um ataque terrorista ao carro, tiros, sangue e bombas são jogadas contra os personagens enclausurados na frágil viatura; o outro plano, em um cenário de guerra e tiroteios, aproximando o espectador da realidade, seguimos o protagonista Théo se escondendo nos escombros dos prédios tentando encontrar Kee. A cena é longa e a câmera vai ficando cada vez mais suja de poeira, terra e sangue.

O cenário pavoroso que o longa nos insere, se contradiz com nosso protagonista que está acostumado e acomodado com a destruição do planeta, a explicação para tal comportamento vem à tona posteriormente. A justificativa do ambiente assustador que vive a humanidade, além da falta de crianças, é feita pela referência da capa do disco Animals do grupo Pink Floyd; na mansão do primo de Théo, homem influente e curador de obras de arte da humanidade, um balão em formato de porco, idêntico ao da capa da banda britânica, sobrevoa as chaminés. Baseado no livro A Revolução dos Bichos de George Orwell, o disco cita a polícia, os políticos e a população cada um com características de determinado animal, revelando um retrato da ambição humana e o ciclo negro e corrompido que o homem vem passando perante a estória da sociedade. Curiosamente o porco voador está do lado oposto da pintura Guernica, a qual Pablo Picasso retrata pessoas, animais e edifícios apavorados pelo intenso bombardeio da força alemã em Guernica, na Segunda Guerra Mundial. Ou seja, a arte do passado representando o futuro.


Além da música e da pintura, Cidadão Kane também é homenageado. Em certa cena Théo e a possível parteira de Kee, a observam brincando em um balanço do lado de fora, através de uma janela, enquanto discutem o futuro da moça e do bebê em seu ventre. Kee parece tranqüila e disposta a permanecer onde está; a cena lembra quando Cidadão Kane brinca na neve com seu trenó Rosebud, o momento de sua maior felicidade, enquanto seus pais o observam pela janela e decidem seu destino.

Em um futuro onde todos aguardam um milagroso nascimento, Cuarón não podia deixar de fora as passagens bíblicas. A anunciação para o espectador, do primeiro bebê em 18 anos, é feita em um estábulo, rodeado de palha e vacas. O personagem principal é transformado em nosso Messias, nota-se que todos os animais de estimação se apegam a ele, como um amigo da natureza ou do bem. Sem esperança Théo e Kee procuram um navio chamado Amanhã, uma espécie de Arca de Noé que os levará para uma ilha onde existe o Projeto Humano, uma espécie de terra sagrada, onde existe a possibilidade do pródigo bebê crescer em paz.

“Filhos da Esperança” é uma obra pessoal e bastante técnica que se sobressai perante uma estória previsível e pouco original. Mas possui seu mérito pela forma como foi abordada, aproximando o expectador do ambiente apocalíptico seja pela música, pela pintura, pela história do cinema ou pela cultura cristã.

Gustavo Halfen

Um comentário:

  1. O protagonista desta histó ria é definitivamente o meu favorito, Clive Owen sempre me pareceu um ator misterioso e muito talentoso e está mostrando na série é o protagonista The Knick, o papel está se desenvolvendo vai ficar perfeito ea história é escuro e muito interessante.

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