sábado, 11 de janeiro de 2014

Ajuste de Contas (Grudge Match)

Direção: Peter Segal
Ano: 2014
País: EUA



Ao sair da sessão de imprensa do filme “Ajuste de Contas”, ouvi um dos críticos declamar as seguintes palavras em relação ao filme assistido: “Putz cara, eu não sabia que eu queria tanto ver isso...”. A sensação de nostalgia nas palavras deste estranho sábio, resumiram basicamente o sentimento que todos vão sentir ao sair do cinema após “Ajuste de Contas”.

Na trama, temos em conflito, dois boxeadores aposentados que eram rivais nos anos 1970; Henry Razor Sharp, na pele de Sylvester Stallone e, Billy The Kid McDonnen, na pele de Robert De Niro. Ambos foram campeões de boxe, e só perderam uma luta um contra o outro, e a terceira luta de desempate nunca aconteceu. Porém, é chegada a hora da decisão.



É inconcebível olhar para o poster deste filme e não imaginar o duelo utópico entre Rocky Balboa e Jake La Motta, ambos mestres do boxe movie nos anos 1970. Ao início do filme, temos um resumo do passado dos boxeadores, mostrando em manchetes de tv e capas de revistas, excelentes montagens dos atores hoje “velhacos”, em plena forma, posando para fotos, inclusive flash de suas lutas a trinta anos atrás. O longa debocha de forma escrachada da decadência do homem e suas barrigas salientes, te fazendo rir com detalhes sutis de ambos os atores, agindo de formas contrárias. De Niro é beberrão e irresponsável, está sempre feliz e pronto para o próximo trago. Stallone mantêm-se o “Garanhão Italiano” tímido e centrado, porém com algumas mágoas guardadas no passado. Aos amantes da comédia pastelão, temos o ator Kevin Hart  no papel de Dante Slate Jr, o promotor (vamos assim dizer) de ambos os lutadores, que como em outras comédias, brinca com os costumes e conflitos entre o homem branco e negro.

Por fim, “Ajuste de Contas” é um filme fetiche, para os amantes deste esporte apaixonante que é o boxe, e mistura duas feras de Hollywood, que se divertem zombando uma da outra, além de ironizar a moda das lutas de MMA e a tecnologia exacerbada utilizada pela juventude atual.

Estreia dia 10 de janeiro de 2014, nos melhores cinemas!

Gustavo Halfen

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Questão de Tempo (About Time)

Direção: Richard Curtis
País: Reino Unido
Ano: 2013





Richard Curtis é um cineasta despretensioso, que usa da sétima arte pra trazer uma mensagem divertida de esperança e amor ao seu público; mas em Questão de Tempo, seu último filme, Curtis se superou.

About Time conta a estória de Tim (Domhnall Gleeson), um ruivo inglês desajeitado, que descobre através de seu pai (Bill Nighy) que todos os homens da família possuem a capacidade de voltar no tempo e modificar seu passado. Com isso ele usa de tal artifício para conquistar a mulher amada, corrigir seus erros, e melhorar sua vida como ser humano.

Apesar de parecer uma comédia romântica comum, Questão de Tempo vai além. Richard Curtis usa do recurso da “viagem no tempo” para focar nas coisas simples da vida; as ações e suas consequências, os erros que não podem ser consertados, o tempo que perdemos com trabalho e coisas fúteis.



A estória, escrita pelo próprio diretor (conhecido pelos roteiros de O Diário de Bridget Jones e Um Lugar Chamado Notting Hill), brinca com a forma que Tim tenta resolver seus pequenos problemas em busca de um amor e conforme o tempo passa, o romance deixa de ser o protagonista da estória e o relacionamento com seu pai vai tornando-se um dos alvos da trama, assim como sua luta por um mundo menos corrido e mais calmo, onde se vive cada dia por vez, onde não nos aborrecemos com futilidades, onde encaramos nossos problemas como desafios para melhorarmos nosso modo de viver, e assim, Curtis deixa sua mensagem.


Se em Os Piratas do Rock (2009), o navio, símbolo das rádios piratas dos anos 1960 na Inglaterra, afunda e a mensagem do rock n’ roll se espalha pela eternidade, em Questão de Tempo, nada é para sempre, mas cada dia é um presente divino, que deve ser vivido com tamanha intensidade mostrada por Tim e seu velho pai.

Estreia dia 20 de dezembro nos cinemas!!

Gustavo Halfen

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O Hobbit: A Desolação de Smaug (The Hobbit: The Desolation of Smaug)

Direção: Peter Jackson
País: EUA, Nova Zelândia
Ano: 2013
  

Na segunda parte da adaptação do livro “infantil” O Hobbit, Peter Jackson deixa de lado o clima ingênuo e pueril, tão enfatizado no primeiro capítulo desta trilogia, para dar mais ênfase ao tom sombrio e as cenas de ação E, não poderia ser diferente, agora Bilbo já encontrou o anel, que desencadeará a trilogia O Senhor dos Anéis, tornando-o um personagem mais sério e ambicioso; aliás, ambição é o principal tema de “A Desolação de Smaug”, Bilbo pelo anel, o anão Thorin pelo seu reinado de volta, Smaug pelo ouro, o elfo Légolas por sua paixão, que não cabe aqui salientar.

É impressionante o quão majestoso Peter jackson conseguiu adaptar o universo de O Hobbit. O que vemos aqui, não são apenas excelentes cenas de ação, atuações e efeitos especiais. “A Desolação de Smaug” é um milagre cinematográfico. Tudo é fantasioso, cada segundo do filme é uma experiência imagética única e alucinógena. Isso sem falar no dragão Smaug que com certeza será o dragão mais fantástico já visto no cinema, além de seu enorme tamanho que nunca cabe inteiro na telona. A dublagem feita por Bennedict Cumberbatch para o Dragão Smaug também e algo que passa uma sensação de onipotência. A cena dos anões fugindo em barris pelo rio Elfico e, as aranhas gigantes é algo extraordinário.




Existe desde “O Hobbit: Uma jornada inesperada” a reivindicação por parte da crítica e dos expectadores em geral, da duração do longa de 161 min. Porém, todas as adaptações cinematográficas de livros, sempre deixam vazios na estória e desagradam à quem os leu. O universo de Tolkien é imenso e rico e, sim, deve ser explorado ao máximo. “A desolação de Smaug” esbanja detalhes que fascina o espectador; nos levando a um mundo fantástico e sonhador. E não é este o verdadeiro sentido do cinema?

Nos cinemas!

Gustavo Halfen

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Um Time Show de Bola (Metegol)


Direção: Juan José Campanella
País: Argentina, Espanha
Ano: 2013



Um Time Show de Bola é o primeiro longa de animação híspano-argentino lançado no Brasil. Dirigido pelo mais popular diretor argentino Juan José Campanella, conhecido pelo Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010 com o longa  O Segredo  dos Seus Olhos (El secreto de sus ojos, 2009); e por  lançar mundialmente a carreira do ator Ricardo Darín (O Filho da Noiva, 2001).

Desde antes do início da elaboração de “O Segredo...”, a ideia e a realização da animação já existiam, porém, devido às dificuldades financeiras e de produção, demorou-se tanto tempo para a animação ser lançada.

Um Time Show de Bola, inicia-se como uma breve, porém fantástica homenagem a 2001: Uma Odisseia no Espaço, passando para uma homenagem ao faroeste de Leone; que deixa qualquer cinéfilo extasiado.



Na trama, temos Amadeo, um jovem apaixonado por pebolim que vence uma partida de Ezequiel, um garoto boçal da pequena cidade. Anos mais tarde, Amadeo continua morando no mesmo lugar, acomodado com a sua realidade. Já Ezequiel, tornou-se um grande jogador de futebol profissional, e volta a sua cidade natal para comprá-la e transformá-la em um gigantesco empreendimento. Agora, Amadeo deve encarar o desafio de uma partida no campo de verdade contra Ezequiel, para salvar sua cidade.

Como de praxe nos filmes de Campanella, o drama familiar é sempre presente, e aqui, é representado pelas crianças de hoje, que não largam seus brinquedos eletrônicos, causando consequentemente um vazio na comunicação entre pais e filhos. A crítica à ostentação e ao ego inflado dos jogadores de futebol profissionais também é bastante focada, Ezequiel é milionário e gasta seu dinheiro em estátuas e esculturas que representam a sua magnitude. Porém, poucos sabem que como um empresário fala em certo momento no filme: “Os ídolos caem, a fama acaba, mas os empresários são eternos!”. Outra questão em pauta, é o fato de quererem “reconstruir” uma cidade mais moderna em cima da vila, que põe em discussão se desejamos esta evolução tecnológica em nossas vidas, ou se este progresso não é somente para poucos.


Muitas são as animações hoje em dia com estórias engraçadas, mas poucas conseguem passar uma mensagem sutil com cunho político e social como “Um Time Show de Bola”. Isso sem falar da homenagem à paixão pelo futebol e suas fantásticas jogadas, feitas em plano sequência.

Estreia dia 29 de novembro nos cinemas!

Gustavo Halfen

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Elysium

Direção: Neill Blomkamp
País: EUA
Ano: 2013 




Já fazem quatro anos desde que um diretor sul africano, desconhecido, apareceu em parceria com Pater Jackson, trazendo um filme sobre alienígenas parecidos com insetos humanóides, que tomaram conta de Joanesburgo, na África do Sul. O diretor chamava-se Neill Blomkamp e o filme, Distrito 9, que trouxe uma linguagem mais documental em um filme sobre preconceito social, racismo, especismo e indústria armamentista. Por todo esse tempo a ansiedade por um novo trabalho, ou até uma continuação de “Distrito...”, aumentava; e este ano saiu Elysium.

Elysium se passa em 2154, em um planeta Terra devastado e coberto de poluição, onde somente a parte precária da população vive lá. Os mais afortunados moram em uma estação espacial chamada Elysium, próximo ao planeta, onde respiram um ar puro e possuem todo tipo de conforto, incluindo alta tecnologia medicinal. Max (Matt Damon) está doente e precisa chegar a Elysium para curar-se. Porém o transporte até lá é clandestino, e comandado por um homem poderoso no submundo terráqueo, Spider (Wagner Moura), que pede algo de grande valor em troca da passagem “espacial”.


A ideia de Elysium é fantástica! A estação espacial é linda, e seu formato circular referencia a estação espacial de “2001: Uma odisséia no espaço” (Stanley Kubrick, 1968). A separação de classes sociais é clara, e não deixa dúvidas todas as críticas sociais presentes no longa. A polícia, robótica e fria, não perdoa deslizes. A crítica armamentista é tão presente quanto em seu primeiro filme, que é referenciado nas pequenas naves usadas na Terra; as trocas de favores entre governo e indústria são constantes. Neil Blomkamp optou por usar um elenco bem global: Matt Damon e Judie Foster, que são estadunidenses, Wagner Moura e Alice Braga, brasileiros e Sharlto Copley, o personagem principal de Distrito 9, que aqui está irreconhecível, é sul africano. E, não foi à toa esta opção, Elysium explora um ambiente global, onde toda a população mundial está unida contra a elite.

O segundo filme do sul africano, tem muito o que falar, mas pouco tempo para tal. Seus 109 minutos de duração não dão conta do recado, embora possua um elenco brilhante, os personagens são rasos e pouco desenvolvidos. Spider, o papel interpretado por W. Moura, é um personagem interessante e complexo, que merecia ser melhor explorado; isso vale também para todo o grande elenco. Seu desfecho não surpreende, e a perda de um dos protagonistas, acompanhado pela trilha sonora melódica, transforma o longa em um novelão.
As comparações de Elysium com seu antecessor, embora presentes, são desnecessárias; até porque é preciso mais que uma grande ideia e elenco para repetir o grande feito que foi seu primogênito, Distrito 9.

Hoje nos cinemas!

Gustavo Halfen

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Tanta Água

Direção: Ana Guevara, Leticia Jorge
País: Uruguai, México, Holanda
Ano: 2013




It is time for stormy weather”. A letra da música “Stormy Weather” interpretada pelo grupo The Pixies, presente na trilha sonora do filme “Tanta Água”, nos remete a uma época de “tempo difíceis”, ou simplesmente época de tempestades. “Tanta Água”, primeiro longa metragem escrito e dirigido por Ana Guevara e Leticia Jorge, nos traz esta mesma indagação.

Na trama, Alberto (Néstor Guzzini), pai divorciado, leva seus dois filhos Lucía (Malú Chouza) e Federico (Joaquín Castiglioni) de Montevidéu, para passarem as férias nas termas de Arapey, no Uruguai. Porém, as fortes chuvas não dão trégua, forçando o trio a ficar trancafiado no quarto de hotel, onde não há televisão, nem computador para fugirem de sua tediosa realidade. Assim, a tensão entre o pai e a filha, que está no ápice da adolescência, vai aumentando.

”Tanta Água” é uma anedota sobre a relação de um pai alheio à adolescência de sua filha, acontecimentos comuns para as famílias de classe média, são mostradas em detalhes por um olhar em terceira pessoa. Vemos o conflito de interesses de um homem que quer passar mais tempo com seus filhos, mas não encontra alternativa para tal. Enquanto que Lucía, quer aproveitar este tempo para descobrir os prazeres da vida adulta. Logo, a manipulação que a menina faz com o pai fica evidente, em troca de alguns pequenos benefícios, que no olhar do espectador soa banal, porém para os protagonistas, ou melhor dizendo, para o pai, encontrar um cigarro na bolsa de sua filha de 14 anos é algo de tamanha importância.


A chuva constante que embeleza o vidro da janela do quarto de hotel da família, também traz consigo a tensão e o vazio entre os protagonistas. Pequenos detalhes como tomates com casca, cigarros e comidas em potes de plástico vão desenvolvendo os personagens nesta história de humor e drama familiar.

A forma como o drama adolescente é exposto no longa metragem uruguaio é tão genuína, que fica difícil compará-lo a outros filmes do gênero. O último capítulo da trilogia romântica de Richard Linklater, Before Midnight, lançado há pouco tempo no Brasil, em certo momento a personagem principal cita que “os verões adolescentes não tornam-se inesquecíveis pela presença dos pais, mas sim, pelo que os jovens fazem na ausência destes”. Esta pequena ideia, de uma obra sem nenhuma ligação direta com “Tanta Água”, deixa transparecer a essência do trabalho de Ana Guevara e Leticia Jorge.

“Tanta Água”, eleito o melhor filme pela crítica especializada no Festival Internacional de Cinema de Berlim, estreia nesta sexta feira no cinema do CIC em Florianópolis.

Gustavo Halfen

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

This is England

Direção: Shane Meadows
País: Reino Unido
Ano: 2006




Ao introduzir os créditos de This is England, nos deparamos com uma Inglaterra tomada pela depressão da Crise do Petroleo de 1979, o descontentamento da população devido a Guerra das Malvinas e o domínio conservador da “Dama de Ferro”, Margareth Thatcher; tudo isso ao som de “54-46 Was My Number” do grupo de skinhead reggae Toots and The Maytals. O Skinhead Reggae também conhecido como Early Reggae foi bastante difundido na Inglaterra no final do anos 1960, principalmente pela classe operária e pelos mods e seus “descendentes, os skinheads. Chamados desta forma devido ao corte de cabelo (raspado), uso de suspensórios e coturnos, os skinheads nada tinham a ver com posição política ou questões raciais; muito pelo contrário, eram apaixonados pelo reggae jamaicano.

O ano é 1983, quando Shaun (Thomas Turgoose), um garoto de 12 anos que perdeu seu pai na Guerra das Malvinas, levanta para ir para a escola, veste suas calças de um número maior e parte. Sofrendo bullying, Shaun encontra conforto ao conhecer um grupo de Skinheads liderados por Woody (Joseph Gilgun), que o acolhem e o levam para caçar, beber e ouvir reggae. O garoto, que agora tem cabelo raspado e coturnos, sente-se pela primeira vez em sua vida parte de um grupo. Não demora para um antigo amigo do bando, que estava preso, retornar. Combo (Stephen Graham) surge com ideais mais politizados para o grupo, discursa sobre o descontentamento da povo inglês e culpa o desemprego da população aos imigrantes indianos, negros e todos os outros que vieram tentar a vida no Reino Unido. Shaun, que não passa de uma criança, passa a conhecer um novo universo, que não deixa de ser uma das diversas vertentes da cultura skinhead.



É notável, mesmo que de forma sutil, que o diretor Shane Meadows nos introduz na cultura da primeira geração dos skinheads, os remanescentes da cultura mod, e sobreviventes do “spirit of 69”, de certa forma em extinção nos anos 1980 em que se passa o filme. Woody e seu grupo, que aglutina também imigrantes jamaicanos, gostam de beber e perambular pela cidade, quando vão na casa de alguém, é perceptível os quadros na parede da produtora Trojan, uma das maiores difusoras do skinhead reggae na Inglaterra e no mundo.

A chegada de Combo, nos leva a segunda geração de skinheads; possuem posição política anarquista, e são xenofóbicos. Se divertem assaltando lojas de imigrantes, bem como agredindo-os física e psicologicamente. Shaun, a princípio não questiona os ideais do novo grupo, porém com o tempo, percebemos que não são só questões político sociais que estão em jogo. Este novo grupo de baderneiros dos anos 1980 são reflexo de toda uma política de guerra e crise econômica que a Inglaterra vinha passando durantes as últimas décadas.

This is England é um filme chocante, que aborda amor, música, comportamento e a política na Inglaterra oitentista. Expõe a cultura skinhead pré racista e suas influências musicais, compara as divergências entre as diferentes gangues da época. Além de possuir um visual white trash, lembrando muito filmes da época.

Gustavo Halfen

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Dentro da Casa (Dans la Maison)

Direção: François Ozon
País: França
Ano: 2012





François Ozon sempre mistura gêneros em seus filmes; se em Ricky (2009) ele brinca com a fantasia e o surrealismo para expor as teorias de Freud, em relação a super proteção da mãe, em “Dentro da Casa”, coloca o espectador como personagem e criador da estória, e personagens como espectadores, brincando com a psicanálise nas projeções criadas por um indivíduo que se espelha e/ou rapassa a outro.

Na trama, Germain (Fabrice Luchini), professor de redação de uma escola pública, apoia o aluno Claude Garcia (Ernst Umhauer) a desenvolver sua escrita. Este por sua vez manipula o professor escrevendo redações que contam seus dias vividos na casa de um colega de aula. Claude mistura fantasia e realidade, confundindo seu mentor, e detém um modo irônico de escrever, expondo seus desejos internos e suas atrações sexuais, que vão acabar interferindo na vida pessoal de Germain.



Suspense, melodrama e sátira ao cotidiano da vida da classe média são as bases de sustentação do longa e, nós, espectadores, vemos o roteiro sendo escrito e construído com a interferência de ambos os personagens. Claude é observador e percebe detalhes repugnantes da vida cotidiana, e junto a isso seus sentimentos adolescentes vão se aflorando e a beleza das “donas de casa” da quais ele frequenta, vão inebriando seu olhar atento, Kristin Scott Thomas e Emmanuelle Seigner tornam-se sex symbols através das lentes de Ozon. As frustrações do professor vem à tona, e ele projeta-se em Claude, que sem pudores vai instigando e construindo sua estória, que por vezes sofre interferências de todos os personagens.


Ozon embaralha a percepção do espectador curioso, deixa-nos interessados pela vida alheia, e desamparados com a nossa (ou a de Germain) que entra em colapso, lembrando o clássico de Hitchcock, Janela Indiscreta. E por falar em clássico, impossível não notar a referência da “Trilogia do Apartamento” de Polanski, onde toda (ou quase toda) trama desenvolve-se “dentro da casa”.

Gustavo Halfen

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Killer Joe – Matador de Aluguel (Killer Joe)

Direção: Willian Friedkin
País: EUA
Ano: 2011





A princípio, ao olhar para a capa e o título de Killer Joe, nos remete obviamente a mais um filme de  ação hollywoodiano, a diferença é quem está da direção: Willian Friedkin, o famoso diretor de um dos filmes mais polêmicos do cinema, O Exorcista (The Exorcist, 1973). Todas as obras de Friedkin vão ao limite do caos e, em Killer Joe não é diferente. Na capa temos um frango empanado no formato do estado do Texas, e você, caro leitor, não tem ideia de onde estes símbolos/objetos irão se encontrar.

Na trama temos Chris (Emile Hirsch) e seu pai Ansel (Thomas Haden Church) contratando o matador de aluguel Joe Cooper (Matthew McConaughey) para matar sua própria mãe e dividirem seu seguro de vida. Porém, como garantia, Joe exige uma noite com a irmã de Chris, a doce e pura Dottie (Juno Temple). A partir disto temos uma rede de intrigas e farsas que levarão o ser humano aos seus maiores pesadelos.



Willian Friedkin brinca com os tabus e debocha do estilo de vida estadunidense. Seu filme foge do cenário comercial, a violência extrema é tão exagerada que caminha entre a comédia e o trash. A desconstrução do modo de vida “americano” é representado pelo próprio frango da capa; enquanto que Dottie, a garotinha de 12 anos nos remete a pureza esperançosa que temos ainda no homem, porém neste povo marginalizado que mata a mãe e vende a irmã, fica difícil achar um herói, e confiar em alguém é enganar a si próprio.

Gustavo Halfen

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Only God Forgives

Direção: Nicolas Winding Refn
País: França, Tailandia, EUA
Ano: 2013


Depois do sucesso de Drive, primeira parceria do diretor Nicolas Refn com o ator Ryan Gosling, que rendeu o título de melhor diretor de Cannes em 2011 para Refn, o público e a crítica ficaram esperançosos com o retorno da dupla Refn/Gosling em um novo projeto. Porém, o que não se cogitava era que o diretor dinamarquês, após dirigir o pesado e belo Valhalla Rising em 2009 (traduzido no Brasil como O Guerreiro Silencioso), já tinha quase todas as cenas de Only God Forgives na cabeça e, foi convidado pelo ator Ryan Gosling para dirigir um filme nos EUA de um roteiro e estória de terceiros. Ele aceitou e inseriu parte das referências que usaria em “Only God...” no aclamado Drive. A partir desta informação fica mais claro dizer que Drive faz alusão a “Only God...” e não o contrário, embora soe estranho.

Only God Forgives, assim como Valhalla Rising, é uma obra bastante pessoal do diretor; que traz à tona sua crise existencial: medos, crenças, revoltas e redenções, que antes de ter apelo comercial, vêm com o objetivo principal de autocura. Fazendo-se assim óbvia a dedicatória do filme a Alejandro Jodorowsky, diretor de filmes surreais que buscavam uma auto cura e redenção de pesadelos próprios e da humanidade em suas obras.

Na trama, os irmãos Billy (Tom Burke) e Julian (Ryan Gosling), comandam um clube de boxe na Tailândia que serve de fachada para o tráfico de drogas. Após estuprar e matar uma garota, Billy é assassinado por Chang (Vithaya Pansringarm), ex policial e justiceiro de Bangkok. Logo a mãe dos irmãos (Kristin Scott Thomas) aparece em cena e exige de Julian, vingança.


É impossível não notar a fotografia neon do longa, e a utilização intensa de vermelho que exclui quase todas as outras cores do espectro; dando uma visão infernal e onírica de um purgatório, que funciona bem, mergulhando o espectador neste mundo, mas  dificulta a narrativa.

O agradecimento nos créditos a Gaspar Noé e David Lynch, também tornam explícitas as referências utilizadas pelo diretor. A violência extrema e o clima fantasioso do filme confundem o espectador entre o que é sonho e realidade. Vemos Julian tendo devaneios e confrontando sua natureza versus seus princípios, através da relação edipiana e conturbada que possui com sua mãe. Temos também a desconstrução mesclada com a homenagem do confronto entre o bandido e o mocinho em personagens bastante estilizados e caricatos; a espada como arma de luta e a honra em duelos faroeste são referências evidenciadas e intercaladas com a máfia da pollícia de uma Bangkok colorida e neon.

Only God Forgives é uma experiência única, mas que irrita a crítica mais convencional; o filme irritou grande parte da platéia que o assistiu em Cannes. Porém seu humor etéreo garante que nem tudo ali é sadismo. O oitavo filme do diretor, que tem estreia em agosto nos cinemas, se aproxima mais de Valhalla Rising do que Drive, pois aqui o herói está a mercê de um ser superior, que não lhe dá esperança de redenção.


Gustavo Halfen