quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Locke

Direção: Steve Knight
País: Reino Unido
Ano: 2014




 “A soma das sombras é proporcional à soma das luzes, e quanto mais forte é a obscuridade que se vê, mais esplendor tem a luz.” (Leonardo da Vinci)


Steve Knight, conhecido por ser roteirista de Senhores do Crime (filme de Cronenberg , 2007), começou a se aventurar na direção cinematográfica em 2013 com o filme Redenção (Hummingbird), onde não obteve grande êxito em uma estória rasa de “lutinhas” no estilo Jason Stathan, seu protagonista. Este ano, seu novo trabalho chama atenção pelo ator principal Tom Hardy, conhecido por interpretar Bane na Trilogia “Batman: O Cavaleiro das Trevas” e por seu excelentíssimo papel em Bronson (Dir.: Nicolas Refn, 2008), filme que lhe rendeu uma das melhores atuações da história do cinema contemporâneo.

Na trama temos Ivan Locke (Tom Hardy) dirigindo um carro durante a noite em uma pista rápida nas proximidades de Londres. Ele trabalha para uma concreteira, que está para fazer a maior entrega de concreto dos EUA para a Inglaterra. De dentro de seu carro, ele utiliza seu celular acoplado ao radio do automóvel para se comunicar com seus funcionários, com sua esposa, filhos e outros contratempos que vai encontrando no caminho.

Todas a estória é contada por um roteiro criativo, através dos diálogos que Ivan tem com as pessoas por telefone. Todas as cenas se passam dentro do carro, por intermedio da bela interpretação do ator, e criativos e milaborantes planos que o diretor bolou para não tornar o longa metragem monótono, utilizando reflexos dos espelhos e dos vidros, misturando luzes de semáforos e da rede pública da autopista.



Locke passa por situações de extrema emoção e precisa ter pulso firme para aceitar sua realidade atual, contando apenas com a tecnologia; enquanto dirige ele resolve problemas familiares e do trabalho, desenvolvendo bem todos os personagens envolvidos, em uma metáfora da sociedade atual e do quanto nos tornamos onipresentes através de nossos telefones megalomaníacos, tornando o tempo cada vez mais curto e, a exigência de nossas respostas rápidas é um dos grandes pontos fortes do filme.

Em um momento onde o cinema de massa apela para efeitos especiais e cenas de grande impacto imagético, Steve Knight busca a essência do “contar estórias”; se na antiguidade o homem usava a sombra de suas fogueiras para representar seus personagens nas paredes de suas cavernas, aqui, o diretor usa de artifícios minimalistas, relaxa a retina do espectador com efeitos cromáticos dos reflexos no carro e incita sua imaginação.          

Gustavo Halfen  

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Godzilla

Direção: Gareth Edwards
País: EUA, Japão
Ano: 2014




Nos anos 1950 no Japão, o país estava devastado pela 2ª Guerra Mundial e vivendo intensamente os horrores causados pelas bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. A censura ocidental impedia os japoneses de produzirem um filme mostrando os horrores causados pelos estadunidenses; com isso surgiu a ideia de Godzilla; um monstro gigantesco mutante em virtude de testes nucleares, que por onde passa deixa medo e destruição.

Em 2013, o diretor Gareth Edwards, já familiarizado com o tema, por seu filme Monsters (2010), é chamado para dirigir o novo Godzilla. O grande desafio deste filme era utilizar a metáfora do ataque nuclear sofrido em 1945 no Japão, homenagear o filme original de 1954, trazer a temática para a atualidade e ainda produzir um blockbuster.

Edwards não só conseguiu este feito como teve a perspicácia de lembrar-nos do acidente em Fukushima em 2011, onde um terremoto de 8,9 pontos na escala Richter, causou um tsunami que abalou as estruturas da Central Nuclear de Fukushima I, provocando vazamento de radioatividade e contaminando a água do mar.

Na trama uma usina nuclear no Japão é destruída por um abalo sísmico desconhecido que causa um tsunami, onde toda a cidade é abandonada devido ao vazamento radioativo. Quinze anos depois, terremotos com o mesmo comportamento voltam a assombrar a superfície da Terra e logo se descobre os gigantes monstros que vêm assombrar a tranquilidade do ser humano.

O diretor não julga Godzilla e seu inimigo natural como seres malévolos, mas sim como seres naturais em sua cadeia alimentar, como o ser humano e as formigas, que as pisa e não sente remorso. Ele demonstra seus tamanhos em movimentos lentos, respeitando suas escalas, e vai expondo Godzilla através de silhuetas e sons que na sala de cinemas com sistema ATMOS cria um hiperrealismo impressionante; aliás o cuidado com o som foi um dos principais impactos desse longa metragem, que deve ser visto com sistema próprio para tal. A trilha sonora referencia, e muito, as músicas de filmes de suspense e terror dos anos 1950, o que nos trás uma nostalgia ainda maior ao ver Godzilla rugindo.

Godzilla não poderia estar em melhores mãos que de Gareth. Seu longa nos põe em perigo, fragilidade e medo, nos lembra do nosso passado assombroso e diverte, como todo bom filme.

Nos melhores cinemas!!

Gustavo Halfen

terça-feira, 8 de abril de 2014

12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave)

Direção: Steve McQueen
País: EUA, Reino Unido
Ano: 2014




Em 2008, quando o diretor Steve McQueen estreou na direção de longas metragens com o filme Hunger, ficou claro que ali estava por vir um grande mestre na arte de dirigir. Hunger foi visceral, intenso e sem sensacionalismo. Um filme com uma crítica social atual sobre os valores morais que a Irlanda vivia na época. Em 2011, McQueen lança Shame, que assim como Hunger teve as mesmas características de assinatura do diretor; intensidade, arte pela arte, brilho e uma temática polêmica, que no caso foi compulsão sexual. Porém até o momento não se ouvia grandes elogios ao diretor. Foi quando ele começou a dirigir um longa em terras hollywoodianas, e mantendo uma temática forte: a escravidão nos EUA.

12 Anos de Escravidão conta a estória de um negro ex-escravo que vive de forma livre após conseguir sua carta de alforria. Não demora em que ele seja sequestrado e trabalhe de escravo ilegalmente pelos 12 anos do título. Baseado no livro autobiográfico de Solomon Northup, protagonizado por Chiwetel Ejiofor.

Confesso que quando soube que “12 Anos...” ganhou o Oscar de melhor filme este ano (2014), fiquei com um pé atrás. Pois os dois primeiros filmes de Steve McQueen, embora perfeitamente técnicos e sensíveis, não eram o tipo de filmes para Oscar, e sim, para festivais menos populares, embora até melhores; devido ao seu caráter não comercial. E fiquei curioso de saber como o diretor conseguiu driblar a “Academia” para chegar em tal podium.



O elenco, que conta com mestres da atuação na atualidade (M. Fassbender, Paul Dano, Benedict Cumberbatch), faz o seu papel de forma esplêndida, com exceção do ator principal, Chiwetel Ejiofor, que não muda sua expressão facial pelas 2 horas do filme. O visual do filme, os planos e todo o ambiente da região sul dos EUA é filmado de forma belíssima como que fosse uma forma de relaxar os olhos do espectador, que só vê desgraça na vida de Solomon. Porém a estória de Solomon é monótona e repetitiva para uma adaptação (quase) fiel ao cinema. Solomon é sequestrado e escravizado e, claro, só isso já bastaria de sofrimento, pois como disse meu colega crítico de cinema Rodrigo Ramos em relação à escravidão: “Nada, nenhuma palavra, nenhuma ação, nenhuma bolsa família ou cota de faculdade será capaz de reparar os erros grotescos do passado.” Porém nos dias atuais, poucas coisas nos chocam como antigamente; o próprio Mel Gibson ao justificar a violência exacerbada de seu filme A Paixão de Cristo (2004), cita, que cada vez mais temos que exagerar na violência em um longa metragem para que consigamos passar a sensação vivida na cena. E, é exatamente isso que falta em “12 Anos...”. O espectador fica esperando as coisas se desenrolarem no filme, porém pouco acontece. Até mesmo o próprio plano sequência de uma cena de tortura em uma escrava, chega a ser mediano. E o final do filme possui um desfecho sem graça e com atuações medíocres, o que tornou tudo muito vago no longa de Steve McQueen.

No ano anterior, outro longa com a mesma temática foi lançado, Django Livre, que apesar de possuir uma outra forma de linguagem, exibindo violência gratuita, ele consegue ambientar e trazer a nossa realidade o sofrimento que os negros passaram no passado, além de toda a questão de vingança que o público que ver na tela.

Outros filmes muito melhores mereciam o Oscar esse ano e, os próprios longas anteriores de McQueen, também mereciam. Assim como o Oscar, Steve McQueen já foi melhor.

Gustavo Halfen

sábado, 11 de janeiro de 2014

Ajuste de Contas (Grudge Match)

Direção: Peter Segal
Ano: 2014
País: EUA



Ao sair da sessão de imprensa do filme “Ajuste de Contas”, ouvi um dos críticos declamar as seguintes palavras em relação ao filme assistido: “Putz cara, eu não sabia que eu queria tanto ver isso...”. A sensação de nostalgia nas palavras deste estranho sábio, resumiram basicamente o sentimento que todos vão sentir ao sair do cinema após “Ajuste de Contas”.

Na trama, temos em conflito, dois boxeadores aposentados que eram rivais nos anos 1970; Henry Razor Sharp, na pele de Sylvester Stallone e, Billy The Kid McDonnen, na pele de Robert De Niro. Ambos foram campeões de boxe, e só perderam uma luta um contra o outro, e a terceira luta de desempate nunca aconteceu. Porém, é chegada a hora da decisão.



É inconcebível olhar para o poster deste filme e não imaginar o duelo utópico entre Rocky Balboa e Jake La Motta, ambos mestres do boxe movie nos anos 1970. Ao início do filme, temos um resumo do passado dos boxeadores, mostrando em manchetes de tv e capas de revistas, excelentes montagens dos atores hoje “velhacos”, em plena forma, posando para fotos, inclusive flash de suas lutas a trinta anos atrás. O longa debocha de forma escrachada da decadência do homem e suas barrigas salientes, te fazendo rir com detalhes sutis de ambos os atores, agindo de formas contrárias. De Niro é beberrão e irresponsável, está sempre feliz e pronto para o próximo trago. Stallone mantêm-se o “Garanhão Italiano” tímido e centrado, porém com algumas mágoas guardadas no passado. Aos amantes da comédia pastelão, temos o ator Kevin Hart  no papel de Dante Slate Jr, o promotor (vamos assim dizer) de ambos os lutadores, que como em outras comédias, brinca com os costumes e conflitos entre o homem branco e negro.

Por fim, “Ajuste de Contas” é um filme fetiche, para os amantes deste esporte apaixonante que é o boxe, e mistura duas feras de Hollywood, que se divertem zombando uma da outra, além de ironizar a moda das lutas de MMA e a tecnologia exacerbada utilizada pela juventude atual.

Estreia dia 10 de janeiro de 2014, nos melhores cinemas!

Gustavo Halfen

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Questão de Tempo (About Time)

Direção: Richard Curtis
País: Reino Unido
Ano: 2013





Richard Curtis é um cineasta despretensioso, que usa da sétima arte pra trazer uma mensagem divertida de esperança e amor ao seu público; mas em Questão de Tempo, seu último filme, Curtis se superou.

About Time conta a estória de Tim (Domhnall Gleeson), um ruivo inglês desajeitado, que descobre através de seu pai (Bill Nighy) que todos os homens da família possuem a capacidade de voltar no tempo e modificar seu passado. Com isso ele usa de tal artifício para conquistar a mulher amada, corrigir seus erros, e melhorar sua vida como ser humano.

Apesar de parecer uma comédia romântica comum, Questão de Tempo vai além. Richard Curtis usa do recurso da “viagem no tempo” para focar nas coisas simples da vida; as ações e suas consequências, os erros que não podem ser consertados, o tempo que perdemos com trabalho e coisas fúteis.



A estória, escrita pelo próprio diretor (conhecido pelos roteiros de O Diário de Bridget Jones e Um Lugar Chamado Notting Hill), brinca com a forma que Tim tenta resolver seus pequenos problemas em busca de um amor e conforme o tempo passa, o romance deixa de ser o protagonista da estória e o relacionamento com seu pai vai tornando-se um dos alvos da trama, assim como sua luta por um mundo menos corrido e mais calmo, onde se vive cada dia por vez, onde não nos aborrecemos com futilidades, onde encaramos nossos problemas como desafios para melhorarmos nosso modo de viver, e assim, Curtis deixa sua mensagem.


Se em Os Piratas do Rock (2009), o navio, símbolo das rádios piratas dos anos 1960 na Inglaterra, afunda e a mensagem do rock n’ roll se espalha pela eternidade, em Questão de Tempo, nada é para sempre, mas cada dia é um presente divino, que deve ser vivido com tamanha intensidade mostrada por Tim e seu velho pai.

Estreia dia 20 de dezembro nos cinemas!!

Gustavo Halfen

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O Hobbit: A Desolação de Smaug (The Hobbit: The Desolation of Smaug)

Direção: Peter Jackson
País: EUA, Nova Zelândia
Ano: 2013
  

Na segunda parte da adaptação do livro “infantil” O Hobbit, Peter Jackson deixa de lado o clima ingênuo e pueril, tão enfatizado no primeiro capítulo desta trilogia, para dar mais ênfase ao tom sombrio e as cenas de ação E, não poderia ser diferente, agora Bilbo já encontrou o anel, que desencadeará a trilogia O Senhor dos Anéis, tornando-o um personagem mais sério e ambicioso; aliás, ambição é o principal tema de “A Desolação de Smaug”, Bilbo pelo anel, o anão Thorin pelo seu reinado de volta, Smaug pelo ouro, o elfo Légolas por sua paixão, que não cabe aqui salientar.

É impressionante o quão majestoso Peter jackson conseguiu adaptar o universo de O Hobbit. O que vemos aqui, não são apenas excelentes cenas de ação, atuações e efeitos especiais. “A Desolação de Smaug” é um milagre cinematográfico. Tudo é fantasioso, cada segundo do filme é uma experiência imagética única e alucinógena. Isso sem falar no dragão Smaug que com certeza será o dragão mais fantástico já visto no cinema, além de seu enorme tamanho que nunca cabe inteiro na telona. A dublagem feita por Bennedict Cumberbatch para o Dragão Smaug também e algo que passa uma sensação de onipotência. A cena dos anões fugindo em barris pelo rio Elfico e, as aranhas gigantes é algo extraordinário.




Existe desde “O Hobbit: Uma jornada inesperada” a reivindicação por parte da crítica e dos expectadores em geral, da duração do longa de 161 min. Porém, todas as adaptações cinematográficas de livros, sempre deixam vazios na estória e desagradam à quem os leu. O universo de Tolkien é imenso e rico e, sim, deve ser explorado ao máximo. “A desolação de Smaug” esbanja detalhes que fascina o espectador; nos levando a um mundo fantástico e sonhador. E não é este o verdadeiro sentido do cinema?

Nos cinemas!

Gustavo Halfen

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Um Time Show de Bola (Metegol)


Direção: Juan José Campanella
País: Argentina, Espanha
Ano: 2013



Um Time Show de Bola é o primeiro longa de animação híspano-argentino lançado no Brasil. Dirigido pelo mais popular diretor argentino Juan José Campanella, conhecido pelo Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010 com o longa  O Segredo  dos Seus Olhos (El secreto de sus ojos, 2009); e por  lançar mundialmente a carreira do ator Ricardo Darín (O Filho da Noiva, 2001).

Desde antes do início da elaboração de “O Segredo...”, a ideia e a realização da animação já existiam, porém, devido às dificuldades financeiras e de produção, demorou-se tanto tempo para a animação ser lançada.

Um Time Show de Bola, inicia-se como uma breve, porém fantástica homenagem a 2001: Uma Odisseia no Espaço, passando para uma homenagem ao faroeste de Leone; que deixa qualquer cinéfilo extasiado.



Na trama, temos Amadeo, um jovem apaixonado por pebolim que vence uma partida de Ezequiel, um garoto boçal da pequena cidade. Anos mais tarde, Amadeo continua morando no mesmo lugar, acomodado com a sua realidade. Já Ezequiel, tornou-se um grande jogador de futebol profissional, e volta a sua cidade natal para comprá-la e transformá-la em um gigantesco empreendimento. Agora, Amadeo deve encarar o desafio de uma partida no campo de verdade contra Ezequiel, para salvar sua cidade.

Como de praxe nos filmes de Campanella, o drama familiar é sempre presente, e aqui, é representado pelas crianças de hoje, que não largam seus brinquedos eletrônicos, causando consequentemente um vazio na comunicação entre pais e filhos. A crítica à ostentação e ao ego inflado dos jogadores de futebol profissionais também é bastante focada, Ezequiel é milionário e gasta seu dinheiro em estátuas e esculturas que representam a sua magnitude. Porém, poucos sabem que como um empresário fala em certo momento no filme: “Os ídolos caem, a fama acaba, mas os empresários são eternos!”. Outra questão em pauta, é o fato de quererem “reconstruir” uma cidade mais moderna em cima da vila, que põe em discussão se desejamos esta evolução tecnológica em nossas vidas, ou se este progresso não é somente para poucos.


Muitas são as animações hoje em dia com estórias engraçadas, mas poucas conseguem passar uma mensagem sutil com cunho político e social como “Um Time Show de Bola”. Isso sem falar da homenagem à paixão pelo futebol e suas fantásticas jogadas, feitas em plano sequência.

Estreia dia 29 de novembro nos cinemas!

Gustavo Halfen

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Elysium

Direção: Neill Blomkamp
País: EUA
Ano: 2013 




Já fazem quatro anos desde que um diretor sul africano, desconhecido, apareceu em parceria com Pater Jackson, trazendo um filme sobre alienígenas parecidos com insetos humanóides, que tomaram conta de Joanesburgo, na África do Sul. O diretor chamava-se Neill Blomkamp e o filme, Distrito 9, que trouxe uma linguagem mais documental em um filme sobre preconceito social, racismo, especismo e indústria armamentista. Por todo esse tempo a ansiedade por um novo trabalho, ou até uma continuação de “Distrito...”, aumentava; e este ano saiu Elysium.

Elysium se passa em 2154, em um planeta Terra devastado e coberto de poluição, onde somente a parte precária da população vive lá. Os mais afortunados moram em uma estação espacial chamada Elysium, próximo ao planeta, onde respiram um ar puro e possuem todo tipo de conforto, incluindo alta tecnologia medicinal. Max (Matt Damon) está doente e precisa chegar a Elysium para curar-se. Porém o transporte até lá é clandestino, e comandado por um homem poderoso no submundo terráqueo, Spider (Wagner Moura), que pede algo de grande valor em troca da passagem “espacial”.


A ideia de Elysium é fantástica! A estação espacial é linda, e seu formato circular referencia a estação espacial de “2001: Uma odisséia no espaço” (Stanley Kubrick, 1968). A separação de classes sociais é clara, e não deixa dúvidas todas as críticas sociais presentes no longa. A polícia, robótica e fria, não perdoa deslizes. A crítica armamentista é tão presente quanto em seu primeiro filme, que é referenciado nas pequenas naves usadas na Terra; as trocas de favores entre governo e indústria são constantes. Neil Blomkamp optou por usar um elenco bem global: Matt Damon e Judie Foster, que são estadunidenses, Wagner Moura e Alice Braga, brasileiros e Sharlto Copley, o personagem principal de Distrito 9, que aqui está irreconhecível, é sul africano. E, não foi à toa esta opção, Elysium explora um ambiente global, onde toda a população mundial está unida contra a elite.

O segundo filme do sul africano, tem muito o que falar, mas pouco tempo para tal. Seus 109 minutos de duração não dão conta do recado, embora possua um elenco brilhante, os personagens são rasos e pouco desenvolvidos. Spider, o papel interpretado por W. Moura, é um personagem interessante e complexo, que merecia ser melhor explorado; isso vale também para todo o grande elenco. Seu desfecho não surpreende, e a perda de um dos protagonistas, acompanhado pela trilha sonora melódica, transforma o longa em um novelão.
As comparações de Elysium com seu antecessor, embora presentes, são desnecessárias; até porque é preciso mais que uma grande ideia e elenco para repetir o grande feito que foi seu primogênito, Distrito 9.

Hoje nos cinemas!

Gustavo Halfen

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Tanta Água

Direção: Ana Guevara, Leticia Jorge
País: Uruguai, México, Holanda
Ano: 2013




It is time for stormy weather”. A letra da música “Stormy Weather” interpretada pelo grupo The Pixies, presente na trilha sonora do filme “Tanta Água”, nos remete a uma época de “tempo difíceis”, ou simplesmente época de tempestades. “Tanta Água”, primeiro longa metragem escrito e dirigido por Ana Guevara e Leticia Jorge, nos traz esta mesma indagação.

Na trama, Alberto (Néstor Guzzini), pai divorciado, leva seus dois filhos Lucía (Malú Chouza) e Federico (Joaquín Castiglioni) de Montevidéu, para passarem as férias nas termas de Arapey, no Uruguai. Porém, as fortes chuvas não dão trégua, forçando o trio a ficar trancafiado no quarto de hotel, onde não há televisão, nem computador para fugirem de sua tediosa realidade. Assim, a tensão entre o pai e a filha, que está no ápice da adolescência, vai aumentando.

”Tanta Água” é uma anedota sobre a relação de um pai alheio à adolescência de sua filha, acontecimentos comuns para as famílias de classe média, são mostradas em detalhes por um olhar em terceira pessoa. Vemos o conflito de interesses de um homem que quer passar mais tempo com seus filhos, mas não encontra alternativa para tal. Enquanto que Lucía, quer aproveitar este tempo para descobrir os prazeres da vida adulta. Logo, a manipulação que a menina faz com o pai fica evidente, em troca de alguns pequenos benefícios, que no olhar do espectador soa banal, porém para os protagonistas, ou melhor dizendo, para o pai, encontrar um cigarro na bolsa de sua filha de 14 anos é algo de tamanha importância.


A chuva constante que embeleza o vidro da janela do quarto de hotel da família, também traz consigo a tensão e o vazio entre os protagonistas. Pequenos detalhes como tomates com casca, cigarros e comidas em potes de plástico vão desenvolvendo os personagens nesta história de humor e drama familiar.

A forma como o drama adolescente é exposto no longa metragem uruguaio é tão genuína, que fica difícil compará-lo a outros filmes do gênero. O último capítulo da trilogia romântica de Richard Linklater, Before Midnight, lançado há pouco tempo no Brasil, em certo momento a personagem principal cita que “os verões adolescentes não tornam-se inesquecíveis pela presença dos pais, mas sim, pelo que os jovens fazem na ausência destes”. Esta pequena ideia, de uma obra sem nenhuma ligação direta com “Tanta Água”, deixa transparecer a essência do trabalho de Ana Guevara e Leticia Jorge.

“Tanta Água”, eleito o melhor filme pela crítica especializada no Festival Internacional de Cinema de Berlim, estreia nesta sexta feira no cinema do CIC em Florianópolis.

Gustavo Halfen

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

This is England

Direção: Shane Meadows
País: Reino Unido
Ano: 2006




Ao introduzir os créditos de This is England, nos deparamos com uma Inglaterra tomada pela depressão da Crise do Petroleo de 1979, o descontentamento da população devido a Guerra das Malvinas e o domínio conservador da “Dama de Ferro”, Margareth Thatcher; tudo isso ao som de “54-46 Was My Number” do grupo de skinhead reggae Toots and The Maytals. O Skinhead Reggae também conhecido como Early Reggae foi bastante difundido na Inglaterra no final do anos 1960, principalmente pela classe operária e pelos mods e seus “descendentes, os skinheads. Chamados desta forma devido ao corte de cabelo (raspado), uso de suspensórios e coturnos, os skinheads nada tinham a ver com posição política ou questões raciais; muito pelo contrário, eram apaixonados pelo reggae jamaicano.

O ano é 1983, quando Shaun (Thomas Turgoose), um garoto de 12 anos que perdeu seu pai na Guerra das Malvinas, levanta para ir para a escola, veste suas calças de um número maior e parte. Sofrendo bullying, Shaun encontra conforto ao conhecer um grupo de Skinheads liderados por Woody (Joseph Gilgun), que o acolhem e o levam para caçar, beber e ouvir reggae. O garoto, que agora tem cabelo raspado e coturnos, sente-se pela primeira vez em sua vida parte de um grupo. Não demora para um antigo amigo do bando, que estava preso, retornar. Combo (Stephen Graham) surge com ideais mais politizados para o grupo, discursa sobre o descontentamento da povo inglês e culpa o desemprego da população aos imigrantes indianos, negros e todos os outros que vieram tentar a vida no Reino Unido. Shaun, que não passa de uma criança, passa a conhecer um novo universo, que não deixa de ser uma das diversas vertentes da cultura skinhead.



É notável, mesmo que de forma sutil, que o diretor Shane Meadows nos introduz na cultura da primeira geração dos skinheads, os remanescentes da cultura mod, e sobreviventes do “spirit of 69”, de certa forma em extinção nos anos 1980 em que se passa o filme. Woody e seu grupo, que aglutina também imigrantes jamaicanos, gostam de beber e perambular pela cidade, quando vão na casa de alguém, é perceptível os quadros na parede da produtora Trojan, uma das maiores difusoras do skinhead reggae na Inglaterra e no mundo.

A chegada de Combo, nos leva a segunda geração de skinheads; possuem posição política anarquista, e são xenofóbicos. Se divertem assaltando lojas de imigrantes, bem como agredindo-os física e psicologicamente. Shaun, a princípio não questiona os ideais do novo grupo, porém com o tempo, percebemos que não são só questões político sociais que estão em jogo. Este novo grupo de baderneiros dos anos 1980 são reflexo de toda uma política de guerra e crise econômica que a Inglaterra vinha passando durantes as últimas décadas.

This is England é um filme chocante, que aborda amor, música, comportamento e a política na Inglaterra oitentista. Expõe a cultura skinhead pré racista e suas influências musicais, compara as divergências entre as diferentes gangues da época. Além de possuir um visual white trash, lembrando muito filmes da época.

Gustavo Halfen